Umas, novas, Idéias

Monday, July 16, 2007

Deslocações


Ela surgiu beirando a porta. Sobrepôs seu corpo na luz que invadia o interior do quarto. Creio que eu acordava. Ainda não estava lúcido de todo. Identificava poucas imagens, mas aquela me pareceu severa. Logo estava desacordado novamente.
Já se passavam vinte anos e ainda sonhava com aquela situação. Recebi um telegrama de congratulações. Me deram algumas medalhas e algum dinheiro. Nada que recuperasse minhas pernas nem minha sanidade mental. Sempre, perto da hora de despertar, ela vinha sobre a luz que invadia o quarto e tornava meus dias mais dificéis.

***
Você não sbae como é complicado para um paraplégico se enforcar. Depois de parcas tentativas optei por comprar uma arma. Não vendem armas a ex-heróis de guerra. Paradoxo enfadonho. As facas sempre me fizeram sofrer muito. Queria a velocidade de um abismo. Apenas cair.
Novamente ela surgia na porta. Agora estava ao redor da luz. Definia seu corpo correto, exato nas formas. Alinhada nas ropas caminhava lúcida em minha direção. Disse-me algo: "já é hora."
Acordei dois andares abaixo. Num lugar que desconheço.

Thursday, July 05, 2007

RAZÃO



Uma hora
não sabendo bem
a razão ou o estudo,
alguma coisa acontece
num abalo confuso.

Te olho como quem
se joga do alto
de uma fotografia.
Messo a queda
calculando
como deve ser
morrer nos teus braços,
apenas.

Nesta hora,
em que a confusão
de cores, panos e peles
habita a noite num telefonema,
desenho teu nome
nas linhas do meu sono.

Sunday, June 24, 2007

Sexta e sábado: A verdade do mundo


"É mentira, uhu. É mentira, uhu..."
Planet Hemp

Este fim de semana tem sido, até então, uma avalanche de surpresas e decepções para mim. Desculpem a metáfora desgastada, ou mesmo o carater passional que esta primeira sentença assume, mas vou partir desta constatação para tentar, com vocês, entender um pouco as engrenagens do mundo e o porquê de algumas pessoas insistirem em salvar esse planeta cheio de gente.
Sexta-feira a noite fui conferir a premiação de um concurso de contos organizado por uma organização de ensino superior da cidade em que resido. Voltado para o público jovem de alunos matriculados no ensino médio, fui acompanhando dois de meus gafanhotos que estavam inscritos. Eles não lograram exito, mas ganharam um belo livro de fotografias de São Gonçalo. Não que eles sejam melhores que ninguém. O curioso foi reparar que entre os dez primeiro três eram da mesma escola, dois eram conhecidos da organização por terem participado de uma oficina literária promovida por ela e o vencedor tinha como tema um triângulo amoroso homossexual, escrito à Machado de Assis e concluído com um grito de louco. Os senhores velhinhos de idade avançada da Academia Gonçalense de Letras, esteio crítico do concurso, se refestelaram em ver um conto que lembrasse Machado. Grande coisa. Fiquei pensando enquanto cantavamos o hino da cidade, que talvez fosse melhor extinguir esse tipo de competição, ou então buscar integrantes desconhecidos para a banca. Por exemplo, professores do ensino médio de uma cidade paulista, uma comissão de alunos da mesma idade de escolas de outro município. Enfim, perder e ganhar não é a questão. Guimarães Rosa perdeu um concurso com Sagarana. Mensagem de Fernando Pessoa ficou em segundo lugar no concurso de efemerides modernas portuguesa. O triste é perceber que surge o desânimo numa pessoa tão jovem, por sentir que seu texto poderia ter ido mais longe, bem mais longe do posto em que ficou. Por fim, a segunda versão do dito concurso sai no final desse ano, com a desculpa de que é preciso mais tempo para a divulgação. Caso eu ainda esteja na rede de ensino médio do município, incentivarei meus alunos a uma nova empreitada, agora já sabedor dos truques literários do mundo.
Sábado foi uma sucessão de decepções com o ser humano. Quando você pensa que já viu de tudo e que já está preparado para todo tipo de coisa vindo das pessoas, vem alguém e faz questão de te provar o contrário. Não vou aqui citar nomes, nem mesmo me estender em questões tão pessoais, o fato é que já não se pode acreditar nem nos seus próprios versos, nem nas bulas de remédio, nem nos caixas eletrônicos. Você fala um pouco aqui, ouve um tico dali e de repente se vê em meio de uma teia de intriga impressionante. Logo você que está em casa esperando o aquecimento global fazer efeito. Sempre acreditei que a pior coisa do mundo são as pessoas, mas algumas têm me feito mudar de idéia quanto a isso. Falo de meus grandes amigos que compartilham muitos desses pensamentos comigo e de algumas pessoas que por ventura surgem e tentam te provar que as coisas podem ser vistas de outro jeito. Lembro-me do sábio Diego Marques: " Vou falar pra vocês a verdade da vida..." Sim, a verdade da vida não se imagina alcançar, e realmente não se alcança nunca. Sempre há mais um andar para se cair.
Sem lamúrias, pra semana eu volto e digo outras coisas, quem sabe as mesmas, mas com idéias diferentes. Aos amigos um abraço do tamanho do rombo na camada de ozonio.

Friday, June 22, 2007

A QUE PONTO CHEGAMOS!!!!!!


COMO DIRIA O SENSO COMUM E A FRASE FEITA:

UMA IMAGEM VALE MAIS DO QUE MIL PALAVRAS

Thursday, June 21, 2007

CARTA AOS LEITORES

Caros leitores do umasideias,

Vim por meio desta comunicar o porquê da falta de publicação na última semana. Passamos por sérios problemas estruturais graças a um artigo publicado no jornal O GLOBO da quarta-feira, dia 13 de junho. O jornalista que assina a nota denigre a imagem deste blog e por conseguinte de seus milhares de leitores espalhados pelo mundo todo. Não é de nosso feitio acusar a imprensa ou mesmo cercear a palavra alheia, porém não podemos admitir tamanha calúnia e injúria proferida contra a literatura e seu espectro mais primordial: o leitor. Entendemos que jornalista de tão renomado meio de comunicação jamais poderia utilizar um espaço público de tanto alcance para desrespeitar a ética e os valores que regem o interlace culturl de um país. Avisamos aos leitores do umasideias que o blog voltará a ser atualizado na mesma frequencia e pedimos desculpas por não termos podido publicar na semana anterior. Alertamos também que as devidas medidas jurídicas já foram tomadas com a intenção de reparar os danos morais, financeiros e sociais que tal nota repudiante causou no meio jornalístico e na sociedade de um modo em geral. Afirmamos novamente que todos do umasideias defendem um jornalismo literário limpo, aberto e polissemico, logo não podemos concordar com tais manisfestações grotescas e preconceituosas como essa. Sem mais a dizer:

O EDITOR.

Friday, June 01, 2007

O impossível possível



No ano passado, após uma atividade avaliativa que propus para uma de minhas turmas de ensino médio, tive uma idéia que achei que não funcionaria na prática. É preciso observar os motivos que me fizeram idealizar tal empreitada. Tratava-se de um trabalho de literatura já conhecido que consistia em, a partir do poema de Mário Quintana, fazer um auto-retrato. Sabendo que não seria correto exigir que fizessem o trabalho em forma de poesia, deixei como opcional a estrutura e o estilo do texto. Para minha grata surpresa alguns alunos escreveram poemas. Uns parafraseando o texto de Quintana, enquanto outros partiram de idéias próprias e criaram textos muito pessoais. Da correção desse trabalho me ocorreu chamar os que deram mostras de gostar de poesia e conversar com eles sobre minha idéia: um grupo de discussão de poemas. Surpreendido fiquei com o entusiasmo de alguns. Uma parte alegou que não tinha tempo ou que não escrevia e lia poesias com tanta frequência e afinco. Reunimo-nos, então, os que toparam logo de cara a empreitada. e desde o ano passado o nosso grupo funciona no proprio colégio em horário alternativo ao que eles estudam. Quando começamos as reuniões ainda não havia uma fórmula pré-determinada nem mesmo idéia de como seria. Sei que hoje, um ano depois, temos a estrutura e uma organização que, mesmo com os pequenos contratempos habituais a qualquer atividade alternativa, consegue trazer pessoas novas e manter os pioneiros do projeto. Nosso grupo de poesia é antes uma desculpa pra conversarmos sobre a vida do que propriamente um encontro estritamente literário. Ler os poemas dos meus alunos me fez perceber que ainda existem pessoas interessadas nesse algo a mais, no ponto além da vida normal e rotineira. A variação dos temas e dos estilos faz com que os encontros sejam repletos de aprendizagem e descontração. Do romântico ao Modernista; das rimas ao verso livre... Todos se juntam para falar de um mesmo sentimento: escrever. Também recebemos visitas. Ora vem Drummond, ora nos chega Pessoa em Campos, em Reis... ora é Bandeira com seus neologismos... O fato é que a idéia que nasceu sob minha própria previsão de insucesso, continua a atrair outras pessoas que escrevem, leêm e/ou se interessam por poesia. Começo hoje a divulgar nosso projeto por essas bandas e, semanalmente, publicarei aqui um poema apresentado no grupo por um dos integrantes para apreciação e comentários de vocês. É o início de uma nova idéia, a publicação de uma antologia poética do grupo. E vamos rimando e remando com nossos 'almirantes loucos' , toda terça-feira e aqui.

Sunday, May 27, 2007

PANOS BRANCOS - Parte III


Após fechar a conta no hotel tratei de seguir caminho até a estação. A cabeça ainda doía-me um pouco enquanto tentava adivinhar o que ouvia um jovem em seu walkman. As pessoas respiram canções por que são apenas elas que se movem por intuição de tudo. Sento-me no banco a espera do transporte. Falta um pouco, gosto sempre de chegar antes. Vinte, talvez trinta minutos. Estas são as minhas vírgulas pessoais. Pausas que retiro de meu tempo para esquecer das ações quem vem. Meu trabalho me proporciona estas incertezas. Rodo caminhos estranhos de qualquer um, escolho rumos ao léu de acordo com o que me pedem ou solicitam. Minha história de vida caberia numa única frase. O que pode encher páginas sem fim são as coisas que fiz para o resto. Este serviço não me pediu prática, experiência ou formação acadêmica avançada. Não precisei de padrinhos, subornos nem mesmo tive que cometer pequenos delitos. Comecei no trabalho sem saber que já tinha batido o ponto. Às vezes algumas situações nos mudam o rumo. Penso que assim deve ser a morte. Insuperável enquanto imprevisível. A morte me vem sempre quando começo a repassar esses assuntos de vida. A morte deve ser a vida. O avesso de mim é trapaça do tempo. Tenho a impressão de estar a viver nas margens do fim, porém o mais próximo que já cheguei disso foi num gozo. A sensação fechada do gozo é uma pequena morte. Sempre que percebe não dar mais, me suicido.

O jovem veio e se sentou junto ao meu lado no banco. O som alto, mesmo retido nos minúsculos fones, explode uns versos assim : “ There are places i’ll remember / All my life though some have changed”... Beatles é a trilha sonora de qualquer coma. Esvazio-me na espera do trem. Tenho que partir agora, eu sei. Este lugar de onde estou perco aos poucos. Minha vida parte e chega sempre que acordo. Cumpro destinos alheios para desviar-me de mim. Imagino. Essas ações de verbo me encolhem o sujeito. A sintaxe da vida restringe pessoas. Não há complementos quando a ação não pede auxílio. Meu serviço é de um só e às vezes custa dividi-lo comigo mesmo. O trem encosta. Minha poltrona tem um número expressivo: 17. Não me recordo de nada que me possa remeter ao dito numeral. Talvez por isso tenha deixado escapar a primeira hora do traslado criando hipóteses possíveis e sem assombro.