Umas, novas, Idéias

Wednesday, February 08, 2006

88%




As meninas brincam com sapatos.
Rodam em saltos, sonham alto
Dançam, riem
Explicam sentidos tratados,
Produzem, sonham , tateiam...

As meninas não são mais ingênuas.
Elas amam, gemem
Gritam o gozo das carnes
E tremem em si.
Meninas cantam músicas de noite,
Não mais canções de roda.

A cidade se amenina em minhas mãos.
Nos punhos, nas palmas
Movimenta-se em ritmo frenético
De forma retroflexa,
Vem e vai na batida da noite.
E explode, suja, semeia
Atira-se pra longe num salto esguio:
Suicídio? Genocídio? Casticídio?
Tudo é cimento quando se pensa cinza.

As meninas hão de rir compulsivamente.
Rirão de mim num futuro eterno
De pretérito imperfeito e casual.
São fortes como vodkas,
Porre, dor de cabeça, desejo de continuar...
Inúteis partem corações aflitos,
Inúteis tem seus corações partidos,
Inútil esta vida de dar e tirar o que é bom...

A cidade cansada de ver sempre de perto
Se afasta da própria fronteira.
Noites inteiras rondo por igrejas, cultos, comícios,
Quero encontrar um gosto doce
Um cheiro de rastro apagado.
A cidade respira, inspira, transpira e pira.
Grita alto, sonhos de meninas,
Mundos sem bonecas, mundos sem casinhas,
As meninas querem casos, criam casos,
Ignoram o acaso pra fazer o seu destino...


As meninas andam por aí pela cidade
Em passos rasgados de cópula e desperdício
Caminham rebolando, insinuando, contorcendo
Querem corpo, mostram corpo, são corpo.
Meu copo vazio sobre a mesa espera, espera, espera...
As meninas não são mais ingênuas, não são.
Um cordãozinho dourado no tornozelo
Com um pingente de lua semi-aberta
Que juro já ter visto nalgum céu...
As meninas esquecem seus pequenos passados,
Querem presentes, muitos presentes diferentes,
Todos bem ricos, todos bem belos.
A cidade retorna a si numa noite dessas.

Após o beijo, o lençol molhado espera a cura.
Cidade nua, noite fria, clichê gozado...
Minhas mãos enternecem versos ao vaso,
Minha mente atordoada xinga o parnaso,
Sou exato, sempre errado, noite inútil.
As meninas repelem a fraqueza anunciada.
Se esvaem, deixam escapar descaso, ignoram...
De cima de seus meio-saltos abalam o chão pisado
E partem rente a calçada...
Meninas são cidades nascidas de um ventre sem nome.
Cidades dessas de passagem,
Cidades dessas que lembramos
Quando não há noite dentro dos olhos.

Meninas provocam,
Rezam, cativam milagres,
No seio aberto como ruas, avenidas,
Vidas em vida e sem vida,
No seio aflito em salto e berro
Onde repousam pequenas cruzes
E dizem cruzes
Exclamam cruzes
Quando numa noite dessas
Encontram alguém como eu.

A cidade desvirgina a manhã
Invade, se vai...
Meninas amanhecem
E são ainda capazes de dizer amor...

7 Comments:

  • At 7:10 PM, Anonymous Anonymous said…

    Poema transbordando ambigüidades e constatando que algo não é mais o mesmo... [Prometo voltar e comentar melhor!].

     
  • At 8:39 AM, Blogger Gustavo said…

    As meninas estão cada vez mais perigosas.

     
  • At 6:56 PM, Anonymous Anonymous said…

    E, foto minha que é bom nada , né?!
    brincadeira , fofo , gostei do poema!!!
    depois eu comento melhor tb...to meio mal...bjs

     
  • At 5:53 AM, Anonymous Anonymous said…

    Uau!
    Adoro poemas de fôlego!
    Acho que é porque não tenho muito...
    Por enquanto, meu voto é seu!

     
  • At 7:14 AM, Blogger marcio castro said…

    delícia de ler...

     
  • At 11:03 AM, Anonymous Anonymous said…

    Muito bom.

     
  • At 3:15 AM, Blogger ideiasaderiva said…

    Fala Otávio.
    Achei um bom poema. Não espetacular, mas algo que diz que você realmente faz parte do time dos "poetas". Um dos caras.

    Não gosto do ar prosaico (o que é isto? rs - dar um ar de liberdade que não é próprio do bom texto - rs) do texto e acho que "a cidade desvirgina a manhã" é cansativo... Não sei gosto do poema, mas sinto-o cheio de equívocos... faltou você dizer que as meninas (e os meninos) desfolham... tamujunto.

     

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