Umas, novas, Idéias

Sunday, December 03, 2006

PROJETO, Parte I

Olá amigos eleitores desse inútil blog. O texto que publico hoje faz parte de um projeto maior e ainda inacabado. Trata-se de uma experiência em prosa, área na qual tropeço muito quando me proponho a escrever um pouco além da medida normal do conto. Portanto, aí vai um fragmento desse inacabado experimento:


"O mal dos banheiros coletivos é não poder usar quando não se quer fazer nada. Queria apenas sentar-me no sanitário e ler o jornal. Logo vem alguém batendo na porta, requisitando o aparelho de louça para intimas reflexões. Cuspo na tampa, ativo meus germes com meus olhos. Desejo vingança de espaço. Este hotel é tão bom, por que não tem uma suíte? Saio de toalha nos ombros. Debaixo das desbocadas reclamações dos da fila entardeço meus passos e ignoro. Não me custa arranjar quizilas, mas também não me favorece. Entro no quarto e me arrumo. Entardece. Preciso observar os hábitos deste mundo. Saber quem sai a que horas. Conhecer os nomes que sei ainda sem carnes. Provar as fezenças do café local. De pronto, ponho-me na rua e perco acenos. Pessoas me olham, retribuo com um gesto de cabeça ao longe. Sinto que agrado. Apesar de não ter as mínimas presenças de ser causa de beleza, não sou tão estragado. Minha mãe dizia que o que tenho de belo está nos olhos, concordo. Quando estive em Buenos Aires (oi foi em Montevidéu?) conheci uma garota chamada Fausta. Era bela como lua seca pendurada no céu. Tinha o corpo sinuoso, sensual e um olhar de menina pequena, criancinha. Me perdia conversando com ela enquanto lembrávamos de cenas do filme que vimos. Tinha mãos lindas, frias, pequenas. Amava Fellini e Allen. Dedilhava numa guitarra imaginária acordes de Harison enquanto cabia a mim as baquetas de Ringo. Eram tardes inteiras de tertúlias musicais e cinematográficas. Sorriamos por nada. Eu bebia um café, ela gostava de conhaque. Éramos um bocado espaçados nas cadeiras. Fazíamos muita coisa juntos. No dia em que fui embora senti no seu rosto um traço de perda. Senti-me importante pra alguém. Segurei qualquer sinal de tristeza pra não alongar o momento. Fausta se aproximou de mim e deu-me um beijo na boca. Minha lágrima desprendeu do olho esquerdo e quedou-se. Senti em meus lábios o beijo de Fausta e o sal do meu choro. O beijo termina. Diante de seus olhos vermelhos e molhados apenas recuo. Entrando na zona de embarque pude somente dizer o que me veio: desculpe. Fausta não se foi e quase posso afirmar que a vi da janelinha do avião. Loucura pós-beijo. Fausta é o meu abraço noturno. Meu trabalho é um mal que me cura. Sempre foi assim. Nunca posso ficar. "

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