Umas, novas, Idéias

Sunday, October 01, 2006

UM RECORTE PRA VIDA TODA



Somos iguais no que sentimos ainda que diferentes no que somos

Se todas as pessoas fossem realmente felizes, em tudo que fazem e sonham fazer, não teríamos essa massa disforme a que chamamos mundo. Pode parecer um pensamento demasiado pessimista, ou mesmo agorento para aqueles desafortunados detentores de uma esperança imortal e da mais leviana forma de sobrevivência, mas não os culpo nem os julgo, tratam-se de pessoas intúteis isoladamente, mas potencialmente necessárias para as estatísticas da decepção maior. Percebam, antes de mais nada, que não há coletivo que englobe realmente todas as pessoas. Não há referência alguma de entendimento entre os diversos grupos para se chegar a qualquer ponto. Nossa idéia de conjunto é a mais próxima possível de nossa individualidade. Somos en nós e nas pessoas de quem nos aproximamos a mesma coisa que jamais seríamos se expandidos em milhões. Formamos universos paralelos onde nossas tristezas, peculiaridades e familiaridades possam se juntar inconscientemente da maneira mais orquestada, tudo para diminuir a dor, qualquer que seja, de qualquer natureza. Se estender no outro é antes um ato de egoísmo do que propriamente de solidariedade. E egoístas seguimos esbarrando nossos pensamentos e nossas desilusões abstratas nas alheias até encontrarmos uma forma menos inútil de expressá-las ou exprimí-las. Somos felizes por dividir nossas tristezas, nossas fragmentadas experiências inertes ao senso comum. Desencadeamos mil vozes dentro de um silêncio usualmente rompido por uma euforia mentirosa e enganadora. Sobrevivemos por que percebemos, dentro de uma escala de mediocridade e agitada dissonância, nossas diferenças representadas em olhares outros, lugares outros, em mesmas e novas formas de entendimento. O mundo nada mais é do que a união de nossas realidades particulares. É uma tensão de tristezas e alegrias pré-programadas. Sempre gostei de me deixar levar, mas perdi o passo da dança. Tenho ainda nesse mundo alguns grandes amigos (talvez seja essa a melhor parte), uma paixão inexplicável por livros e pela escrita, um desconforto natural com e nas palavras e uma série de pequenas fraturas que serviram apenas pra me unificar nesse todo, conformado e desdito. Recortei a última imagem de meu acaso pra entender melhor que não se trata de algo mutável. Um dia vamos para um lugar qualquer onde não se identifiquem nem a memória nem a querência. Eu me vou.

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