Umas, novas, Idéias

Tuesday, January 09, 2007

2007, lembrança de outros anos



Há alguns bons anos atrás, fui participar de um evento literário no auditório do tribunal de contas do Rio de Janeiro. Lá estavam escritores e jornalistas fluminenses, talvez não os mais relevantes, mas certamente os mais experientes, maldosamente falando. Vimos a apresentação de alguns dos citados figurões e, depois de um tempo, chegou a vez dos mais jovens, no qual me incluo aqui, recitarem alguns de seus poemas. Imaginem. No fim, alguém muito inspirado deu a brilhante idéia de juntarmos todos para tirar uma fotografia que ‘eternizasse’ o momento. Meu pai, que estava presente, parou entre meu primo e eu e disse a frase mais relevante daquela tarde: “Sorriam, pois, para muitos aqui, essa fotografia pode ser a última.” Pois é, depois disso outros anos vieram e trouxeram muitas histórias boas, das quais não me lembro de todas, mas sei que estão aqui guardadas, prestes a aparecer ao primeiro cheiro de uma Madaleine. Dois mil e sete me parece ser o ano apropriado para isso. Essa semana e meia vem mostrando que não se deve planejar nada mesmo. As coisas acontecem independente da nossa virtuosa mania de comandar o mundo. E essa sensação, de deixar que as coisas corram por si só, deixa mais tempo para que as lembranças aflorem e as histórias me reapareçam com mais graça e realidade que no próprio dia em que aconteceram. O natal dos sem família em 2005, com a inesquecível cena de Fabiano Morais aparecendo do nada para elogiar o sanduíche de pernil do Cervantes. O dia em que eu e dona Norma raspamos quatro tabuleiros onde foram assados os frangos de um natal distante. O bloco do ‘Se melhorar afunda’; os ciclos do Conversando Literaturas; a sessão de Blow-up; e tantas outras histórias que esse grupo de amigos dedicou ao caráter fixador do tempo. É o tempo que me parece a chave para entender essa coisa que chamamos de vida. Não, não se trata de entender o tempo. Trata-se de não leva-lo em consideração, pelo menos não como querem que levemos. Eu quero estar aqui agora, escrevendo sobre coisas sem importância, imaginando meus cinco ou seis leitores eu conhecem e visitam esse endereço eletrônico, sem me preocupar com a hora em que vou terminar o texto. A memória involuntária de Proust e seus caminhos de Swann são um pouco disso. Espero que essas linhas tragam outras lembranças de nosso tempo à mente dos que por aqui passarem. Dois mil e sete e o nosso eterno jogo de lembrar e de esquecer.

2 Comments:

  • At 11:54 AM, Anonymous Anonymous said…

    engraçado é que, no seu jogo de lembrar-esquecer, acabamos votando mesmo 2006 ao solene esquecimento.
    eu gostava era de escrever eternamente, eternamente a mesma obra, assim como vamos amando a mesma pessoa metamorfoseada, como diria o outro.
    abraço,

     
  • At 2:18 PM, Anonymous Anonymous said…

    Olá querido, realmente como o tempo passa e só nos resta recordar o que de melhor aconteceu...
    Grande beijo pra ti...

     

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