2007, lembrança de outros anos
Há alguns bons anos atrás, fui participar de um evento literário no auditório do tribunal de contas do Rio de Janeiro. Lá estavam escritores e jornalistas fluminenses, talvez não os mais relevantes, mas certamente os mais experientes, maldosamente falando. Vimos a apresentação de alguns dos citados figurões e, depois de um tempo, chegou a vez dos mais jovens, no qual me incluo aqui, recitarem alguns de seus poemas. Imaginem. No fim, alguém muito inspirado deu a brilhante idéia de juntarmos todos para tirar uma fotografia que ‘eternizasse’ o momento. Meu pai, que estava presente, parou entre meu primo e eu e disse a frase mais relevante daquela tarde: “Sorriam, pois, para muitos aqui, essa fotografia pode ser a última.” Pois é, depois disso outros anos vieram e trouxeram muitas histórias boas, das quais não me lembro de todas, mas sei que estão aqui guardadas, prestes a aparecer ao primeiro cheiro de uma Madaleine. Dois mil e sete me parece ser o ano apropriado para isso. Essa semana e meia vem mostrando que não se deve planejar nada mesmo. As coisas acontecem independente da nossa virtuosa mania de comandar o mundo. E essa sensação, de deixar que as coisas corram por si só, deixa mais tempo para que as lembranças aflorem e as histórias me reapareçam com mais graça e realidade que no próprio dia em que aconteceram. O natal dos sem família em 2005, com a inesquecível cena de Fabiano Morais aparecendo do nada para elogiar o sanduíche de pernil do Cervantes. O dia em que eu e dona Norma raspamos quatro tabuleiros onde foram assados os frangos de um natal distante. O bloco do ‘Se melhorar afunda’; os ciclos do Conversando Literaturas; a sessão de Blow-up; e tantas outras histórias que esse grupo de amigos dedicou ao caráter fixador do tempo. É o tempo que me parece a chave para entender essa coisa que chamamos de vida. Não, não se trata de entender o tempo. Trata-se de não leva-lo em consideração, pelo menos não como querem que levemos. Eu quero estar aqui agora, escrevendo sobre coisas sem importância, imaginando meus cinco ou seis leitores eu conhecem e visitam esse endereço eletrônico, sem me preocupar com a hora em que vou terminar o texto. A memória involuntária de Proust e seus caminhos de Swann são um pouco disso. Espero que essas linhas tragam outras lembranças de nosso tempo à mente dos que por aqui passarem. Dois mil e sete e o nosso eterno jogo de lembrar e de esquecer.
2 Comments:
At 11:54 AM, Anonymous said…
engraçado é que, no seu jogo de lembrar-esquecer, acabamos votando mesmo 2006 ao solene esquecimento.
eu gostava era de escrever eternamente, eternamente a mesma obra, assim como vamos amando a mesma pessoa metamorfoseada, como diria o outro.
abraço,
At 2:18 PM, Anonymous said…
Olá querido, realmente como o tempo passa e só nos resta recordar o que de melhor aconteceu...
Grande beijo pra ti...
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