Umas, novas, Idéias

Friday, October 14, 2005

Anatomia Erronea do Nariz



Vai longe bem distante aquela nau que não deixa de tal nome solidão. Parece um verso emendado e deve ser. Os rios e os mares são muito inexplicáveis para as pequenas incertezas do homem. Salve amigo marujo que se desfaz em ondas repentinas de desgosto e tédio. O homem reparte em todos os pedaços possíveis um quadrado e insoso biscoito de cream cracker. Farelos bóiam como ilhas na tigela de sopa. Essa é a solidão dos aviões, sempre evitam se esbarrar no céu. As aves voam em bandos. Os aviões voam de banda, fingindo não conhecer ninguém. A nau segue calada numa invisível sessão de Fellini no telão do cinema central. Corro minhas especulações existenciais sobre a durabilidade do saco de pipocas durante a sessão. Adoro pipocas e a nau parece tão lenta. Vôo por toda a sala procurando um deserto cemitério de aviões onde possa encontrar um pipoqueiro para comprar mais pipocas. Os aviões voam incapazes de bater asas. Na tela a nau segue se arrastando com um terrível, porém inusitado sotaque português. Aos poucos a sopa ia escorrendo pelos cantos da boca e se espreitando na barba espessa e sem cor de um homem velho. Gosto também de cream crackers, mas não com sopa, prefiro acompanhados de manteiga ou geléia. É uma espécie de realce ao sabor. O mar é salgado. Choroso de tanto ser cortado salgou-se de mágoas próprias e não dos outros. O mar é mar e não precisa ser mais. Quando a sopa termina a tigela vazia guarda ainda restos umedecidos de biscoito. É quase um retiro de corais, uma reserva barrosa onde a nau não esbarra. Aviões batem em nuvens. O céu não tem gosto de nada. O que tem gosto te gasta e te gosta. As pipocas se quebram em minha boca e forjo assim acidentes de casco esbarrado em rochedos. Sacudo o pacote a procura de mais sal. O sabor é um recorte de saudade. Uma saudade pesa quanto foi e por quanto tempo ainda será. Quero apenas terminar o filme junto com as pipocas. O homem se levanta, atira contra o mar a tigela vazia e solta um grito. Talvez o rabo de uma enorme baleia tornasse a cena mais estranha. A platéia de eu e mais uns fazia diversas caras de várias compreensões. Todos pareciam perceber detalhes que nem o autor pensou. Eu não entendia nada além de naus e aviões. Mas a pipoca se mostrava terminantemente terminal. Como dessas coisas que não entendemos me veio uma antiga fórmula de física. Tentando lembrar suas possíveis resoluções e utilizações acabei por perder o final do filme ante meus olhos. Na saída, ainda com pipocas minhas, pude expor minha opinião sobre a cena da tigela atirada ao mar como tradução subvertida de toda a dialética restrita imposta e fragmentada entre a solidão e o infortúnio do não estar em si mesmo contemplada pela figura topográfica e inconstante de água em movimento com ao adendo palatino do sal como verdade/mentira na decomposição do humano e do mundo. As pipocas acabaram e na saída pude ver um avião. Naus não fazem mais. Naus apenas vão.

2 Comments:

  • At 9:36 AM, Blogger [sic]. said…

    O queu posso dizer?

     
  • At 7:30 PM, Anonymous Anonymous said…

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