Umas, novas, Idéias

Friday, November 11, 2005

O tempo que esqueci ter...


Na noite desta última quarta-feira pude perceber a velocidade com que as coisas mudam. O tempo é implacável, até nos segundos. Era a primeira vez que retornava da faculdade após ter me mudado de residência e de cidade. Caminhada até o terminal, meia hora de ônibus até a nova casa. No caminho, ainda pensando nas discussões do conversando literaturas, me vieram diversas inquietações sobre a hora, o espaço já percorrido e o que ainda faltava. Assim, depois de dois longos minutos de auto-reclamações, tive uma sensação diferente. Meus olhos presos à paisagem, que apesar de feia me intertia dolorosamente como um sarcasmo. A cabeça imaginando coisas, pensando pessoas e frases de um vazio lascivo. Nem pude reparar o número de gente diferente que sentou ao meu lado. Viagem longa. Memória se refaz e me leva aos tempos em que morei no Rio e perdia horas inteiras em engarrafamentos até chegar em casa. Voltei aos dias em que os bancos dos coletivos me aprisionavam na solidão do pensar. Meus olhos seguiam presos à janela fotografando o caminho ainda novo. É bom saber onde se está para se perder melhor. Tinha em mente tantas idéias irresistíveis sobre contos, romances, críticas; especulações sobre os resultados dos concursos que estou participando e seus possíveis desdobramentos (coisas inimagináveis num ambiente normal e são). Apreensão. Dei conta que tinha perdido esse tempo que sempre me foi tão produtivo e solitário nos caminhos de volta para casa. Enquanto morei por perto tudo era muito curto: idéias inacabadas, rostos indefinidos, mal dava para amar alguém. No bem, formulava erroneamente um pensamento entre um ponto e outro. As pessoas iam descendo e deixando dentro do coletivo um ar maior de resignação por mais um dia perdido. Quem tem pressa de chegar? Aonde chegar? Para quem e para quê chegar? A hora de descer se aproximava, malditos pontos de referência! A rua semi-escura, paralelepípedos desencontrados, a lixeira me fazia recordar o portão certo. De volta ao convívio, distante novamente de mim, sobrou a certeza de que esqueci todas as mirabolantes idéias que tive, todos os contos, novelas e romances que subterraneamente escrevi no coletivo, todas as formas que pensei para dizer o que quero dizer para quem quero dizer... quem sabe se me lembrasse ao menos disso voltaria a ter pressa em chegar.

4 Comments:

  • At 8:45 AM, Anonymous Anonymous said…

    bom texto... um ônibus é uma boa oportunidade pra pensar em coisas que logo a gente esquece, porque talvez, talvez, haja uma vida pra viver, embora não se saiba exatamente para quê. Abraço!

     
  • At 1:17 PM, Blogger Um quase tudo": said…

    Adoro viagens de ônibus ... já votei no concurso ...tô com preguiça de comentar ...depois volto ou comento no próximo ...mas gostei do post...
    bjssssssssss

     
  • At 6:54 AM, Blogger Rômulo Souza said…

    Concordo com o Ivan. O nosso projeto começou a ser escrito durante uma viagem de ônibus, entre balanços, músicas e conversas de passageiros muito inspirados.

    Um abraço,

    Rômulo

    Ps.: Dessa vez, prefiri omitir a minha crítica...

     
  • At 10:30 PM, Blogger [sic]. said…

    Assustadora sua crônica, rapaz. Quando mudei pra lá também procurava pela lixeira para não entrar no corredor errado. E a viagem de volta é massacrante mesmo, quantas boas idéias deixei pra trás, tem razão, tem razão! Quantas vezes chorei naquele 532M, todo mundo me olhando, as velhinhas perguntando seu me sentia bem e eu só escondia a cara pra não passar pela humilhação de ser digno de pena...

    Tente ser feliz na nova casa, faça isso por mim, ok?

     

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