Umas, novas, Idéias

Wednesday, April 05, 2006

Esquinais






Fazia três minutos que os dois rapazes chutavam a velhinha caída no chão. De fora, um terceiro observava acompanhando o compasso do relógio em seu pulso. Quatro minutos e a ordem em rouco dito: " Acabou." Os três saíram sem nenhum sinal de alegria pelo feito. A velhinha se levantou com dificuldades e voltou caminhando como pode para casa.

- Por que será que ela paga a gente pra fazer isso?
-Sei lá, pega o dinheiro e se manda!
-Amanhã as sete?
-Sim, no memso local.

Você não vai fazer isso Carlos! Saia já daí! Atento ao movimento dos carros na avenida o menino vislumbrava a queda anterior ao corpo no ar. Soltou a cortina. Não!!!! Quando se cai do décimo quinto andar de cara no cimento, não sobr muita coisa pra ser dita.

-Por que será que ela paga a gente pra fazer isso?
-Agora que o Erick foi embora vou te falar o que penso...
- ...
- ...
- Mas você acha que se trata disso mesmo?
- Certamente. É a minha opinião.
- Não sei... Mas você pode ter razão sim.

Ei piranha! Piranha é a puta que te pariu! Ei mamãe, vem cá vem... Mamãe é o escambal, vai se fuder Erick. Martinha 3x4 sabia como humilhar um homem em público. Erick tinha pouco tempo e um dinheiro sobrando para o dia anterior. Se aproximou da Marinha e dois tecos roeram-lhe a face. Piranha filha da puta.

-O Carlos pulou da janela...
- Porque?
-A mãe dele disse que o menino não suportu a perda da visão...
-Mas não era algo reversível?
-Bem, não é mais.

A velhinha caminhava lentamente para a mesma esquina. O sol atrasado deixava uma névoa de cigarros matinais.

-Dona Gertrudes. Bom dia.
-Cinquenta, cem, cento e cinquenta, duzentos... Podem começar rapazes...

Numa só rasteira o encontro do corpo ferido e enrrugado com o chão. Os chutes, a sequência incansável, as pancadas... nenhum grito de dor, nenhuma reação. Erick olhava atentamente o relógio. Tinha a certeza de que não podia passar a medida combinada. Questão de negócios.

-A senhora sabia de algum motivo para o menino ter se jogado?
-Não...
-Lembra de alguma atitude estranha dele nesses últimos dias?
-Nada demais...
-Nada mesmo senhora?
-bem, ele acordava bem cedo e antes de tomar café ficava da janela olhando fixamente para a esquina... mas ele não enxergava mais...

Quatro minutos gente. Acabou! Vamos, vamos. Os três seguiam frios pela rua, mãos nos bolsos dos casacos e aquele ar de não saber o que se fez, porque se fez.

A porta se abria lentamente. A velhinha entrava escoriada e com alguns machucados sangrando.

-Está bem senhora?
-O que esse policial está fazendo aqui Rita?
-Veio falar sobre a morte do Carlinhos...
-Deixem o meu neto descansar em paz...

No quarto Gertrudes contava o dinheiro sobre a cama. Na sala o policial perguntava a si mesmo o que tinha de mais naquela esquina.

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