Umas, novas, Idéias

Tuesday, December 27, 2005

FECHADO PRA BALANÇO



Em 2006 aguardem novidades neste triste blog sem promessas ou expectativas. Apenas aguardem.

Wednesday, December 21, 2005

Decadência das Letras


A última página se fez finda e concluíra mais um clássico da literatura universal. Lixo! Tinha a certeza mais humana de que entre todods os títulos que me indicaram apenas poucos pude realmente apreciar. Decidi de instante: Vou jogar-me de cabeça na literatura contemporânea. Quero o novo. Preciso encontrar novas fórmulas de escrita. O novo! Li compulsivamente tudo que me flavam sobre novos autores de todas as literaturas possíveis do mundo. Nas emergentes, dos países mais novos enquanto nação(?), encontrei as melhores coisas. Momentos literários interessantes. Diálogos com o que deve haver de mais literário em tudo que não é literário. Tirar da pedra, à moda João Cabral. Percebi grandes lutas todas perdidas, muitas nem terminadas pela aceitação do óbvio que propunha o escritor. Temos de lutar, mesmo sendo um combate vão. Drummond lutou. Drummond. Criou-se em mim uma sensação de desencanto e desespero, tanto no correr da pena, como no fazer dos versos... " Faço versos como quem chora, de desalento, de desencanto/ fecha o meu livro se por agora não tens motivo nenhum de pranto..." Bandeira e seu porquinho da índia. O novo! Essa promessa que me disseram de que estão fazendo e publicando coisas boas hoje em dia é uma furada. Quase tudo é uma bosta, e o que não o é de todo, ou relê o passado ( mesmo o mais recente ) ou ficionaliza fatos históricos, bases já prontas nos acontecimentos, esperando apenas o corpo de literatura. Voltei aos clássicos para me retratar com Dostoiévski, Flaubert, Dante, Camões, Drummond, Cabral, Bandeira, Gullar, Pessoa, Bocaccio, Camus... entre outros. Que bosta é o nosso hoje literário. A decadência que se instalou nas letras mundiais, principalmente e agravantemente, nas brasileiras, me consome em mares infindáveis de angústia (Graciliano). Por que estão detruíndo nossa literatura???? Cobardes! Cobardes! Enquanto puder ler um poema como Para a feira do livro de João Cabral; enquanto puder me assombrar com Crime e Castigo de Dostoiévski; enquanto puder entender Homero, Virgílio e Camões nas suas fantásticas epopéias, a BOA literatura ainda respirará, ao menos em mim, como uma fina e tênue sobrepele de esperança neste marasmo decadente que é o cenário literário atual. Faltou Augusto, Não podia faltar:
"Tome um fósforo. Acende o teu cigarro.
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se à alguém causa ainda pena a tua mágoa,
apedreja essa mão vil que te afaga,
e escarra nesta boca que te beija."

Vai página vã em busca do teu prelo perdido.

Sunday, December 18, 2005

Uma Nova Lenda...






-Gerrard cruza pra área, desvia Luís Garcia, passa por todo mundo, vai entrar... ROGÉRIIIIIIIOOOOO CENIIIIIIIIII!!!!!!!!

-Gerrad preparado para a cobrança da falta... ele pega muito bem na bola... partiu o meia inglês... ROGÉRIIIIIIIOOOO CENIIIIIIIIII!!!!!!!!!!!!

-Lançado em profundidade o atacante Luís Garcia... vem o espanhol, ginga, pensa, fuzila... ROGÉRIIIIIIOOOOO CENIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!!!!



O jogo pode até não ter sido lá essas coisas... Mas Valeu Rogério, Valeu.

Wednesday, December 14, 2005

O beiral

Todas as tardes de quinta matavamos a última aula para nor reunirmos no beiral da estrada. Éramos quatro amigos quase inseparáveis, desses que brigam a todo instante só para poder pedir desculpas no fim. Tínhamos em comum a fome, a desesperança e nossa incontestável paixão por carros. Ficavamos ali por horas, até o escuro da noite não deixar mais ver. No beiral, sempre perfilados na mesma ordem: Eu, Toninho, Beto e Vicente. Quatro focos na mesma espera pelos carros que cortavam aquele trecho da estrada ignorando qualquer noção de responsabilidade quanto a velocidade. Toninho suspirava, em seus olhos eu podia ver sua enorme capacidade de imaginar-se no volante. Por surpresa dessas que não se entende, foi o primeiro a nos deixar. Pai morto e apesar das tristes secas, a mãe partiu com ele de volta para as terras lá de cima. Deve ter feito da janela do ônibus um grande cinema. Depois de algum tempo era perceptível o nervosismo de Vicente com a nossa situação. Faltou uns dias na escola, julgamo-os doente. Em casa também não estava. Vicente apareceu semana seguinte. Parou ao nosso lado e mostrou a arma. "Vocês são meus amigos. Qualquer encrenca é só me falar!" Nunca mais vimos Vicente até nos depararmos com seu corpo coberto por jornais na esquinas da rua de baixo. Beto me disse que ia começar a trabalhar pra ajudar a mãe. E foi. Depois disso nossas tardes viraram minhas tardes. Sozinho sentava no mesmo beiral e ficava não mais admirando os carros, mas lembrando de meus amigos. Cada um com seus poréns, cada um longe de nós e, provelmente, mais longe de si mesmos. Sentado no beiral vi um carro parando , devagar... a porta abriu e o medo correu-me as veias. Nesta terra, só vale o medo. Vem o Beto de dentro do carro e acena num vem. Uma velha máquina, um beiral de rodas e nosso retorno de conversas vazias compensava a dor de não ver saída no fim do caminho.

Wednesday, December 07, 2005

VELUDO



Creio que a vida começou realmente para mim quando Alice pousou pela primeira vez seus pés em meu rosto. Desenhava o contorno de minha face delicadamente até elevar a voz e, num tom de ordem cheio de súplica ao fundo, pedir que os beijasse. Minha primeira reação foi estranhar, não o pedido em si, mas o modo como Alice o tinha feito. Menina doce, de uma brancura de alma, quase atrás de tudo que possa ter malícia, se mostrava agora insana e cheia de formulações pessoais indizíveis à maioria dos ouvidos hipócritas deste mundo. Beijei deliberadamente seus pés no encanto de estar realizando uma espécie de fantasia particular. E, para mim, esse fetiche da moça, não se tratava de beijar pés e sim da possibilidade de ser atendida sem questionamentos, essa coisa de mandar. Aos poucos seu corpo foi desfalecendo sobre a cama e ela se contorcia levemente, quebrando ar, brincando com o medo. Minhas concepções de orgasmo feminino tinham caído por terra no instante em que vi Alice apertar o lençol entre as mãos com muita força, contrair todos os músculos de uma só vez, ritmadamente, e soltar um grito mudo, preso nos lábios, que só pude entender quando beijei sua boca no fim. Isso faz uns cinco anos. Uns cinco anos que tento refazer a cena, mas percebo que nunca consegui rever a mesma expressão em seu rosto. Não que o tempo tenha tornado nossa vida num fado pesado e sem rumos, onde não há mais espaços para esse tipo de sensação. O que penso é que realizei naquele dia o grande desejo de Alice e que as repetições diversas não podem reproduzir o mesmo efeito. Dia desses decidi por um fim nesse impasse tão meu. Alice chegara do trabalho, um pouco molhada pela chuva, deixei que subisse para o quarto e a segui espreitando suas ações. Ela tirava peça por peça e já se preparava para colocar o roupão em direção ao banho. Entrei no quarto. Ordenei que parasse. Alice assustou e continuou em direção ao banheiro . Aconteceu algo! Disse espantada. Foi só o tempo de puxa-la brutalmente pelo braço e derruba-la no chão. Não entendendo muito bem minhas intenções, ela gritava, pedia socorro, tentava se livrar de mim, mas o peso e o tamanho de meu corpo proporcionavam uma armadilha impossível de se soltar. Seus braços já estavam vermelhos e sem tirar o roupão, pela intuição do corpo que só o tempo dá, penetrei Alice com a força que nunca tinha usado, com o fim de todos os carinhos, com a devassidão não tão comum aos casais... aos poucos seus gritos de medo e desespero traduziram-se em flashes vocabulares dessa redação de carnes e gozos. Alice , rendida debaixo de meu corpo, sem saber ao certo o que estava acontecendo, contraía todos os músculos de uma só vez, ritmadamente, e soltava um grito mudo, preso nos lábios, que só pude entender quando mordi sua boca no fim. Ainda ali, quase sem movimentos, me disse num sussurro que sua vida tinha começado realmente. Ela havia me dado o gosto de ser mandado, lhe devolvi a vida na revolta de quem quer mandar.