Alguma coisa acontece no meu coração...
À Samara
Em São Paulo tem muito paulista, e eu, carioca emprestado de sotaque e jeito, senti isso de perto no último final de semana. A cidade, que eu ainda não conhecia, me assustava um pouco pelo que sempre ouvia falar sobre sua dimensão, tamanho dos prédios, o centro da cidade... Mas chegando ao terminal rodoviário do Tietê pude perceber que as coisas não eram tão diferentes assim. O medo do novo sempre nos assusta até que o novo se torna velho ou mesmo habitual. Foi assim com a cidade. Depois de algumas caminhadas, metrô e lugares, fui percebendo que as metrópoles, ainda que diferentes geográfica e historicamente, concentram em suas ruas e hábitos os mesmos costumes e as mesmas relações finaceiras e sociais. São Paulo então se tornou o lugar, isto é, o cenário, um pouco mais conhecido, para o que podia acontecer. O primeiro ponto de parada foi o Museu da Língua Portuguesa, recém inaugurado, onde achonselho e recomendo, além da exposição muito bem organizada sobre Grande Sertão: Veredas, a apresentação de vinte minutos que conta com um belo show de luzes e textos selecionados dos principais autores brasileiros e portugueses (esqueceram dos africanos...) recitados ou lidos por outros como Chico Buarque e Fernanda Montenegro, por exemplo; e ainda com alguns poemas recitados pelos próprios autores, o que acontece com Drummond, João Cabral e o próprio velho Guima. Aliás, vale lembrar que furamos a fila do museu e quase ficamos sem nossas bolsas na saída... enfim... Após o museu o caminho foi a noite paulistana que é muito conhecida e bem falada em todo canto. E realmente não deixou a desejar, uma noite extremamente agradável que poderia ser a única noite ou mesmo a última noite de todas. Tudo perfeito: música boa e instigante, bebidas liberadas, um lugar sensacional e uma companhia ímpar, singular (sinônimos que julguei mais interessantes para não repetir o 'perfeito' novamente) . Sim, São Paulo deixou um gosto de 'ainda volto' , 'volto logo' e 'tenho de voltar'. Ter estado ali, fazendo coisas por demais divertidas, rindo, conhecendo novos lugares, a liberdade do não saber aonde ir, as ruas nascendo sem se apresentar, todos os caminhos que não se conhece, tudo que vem de encontro, tudo que recria seus próprios conceitos... Estar com que se gosta e quer bem é entender o porque se espera, o porque as coisas valem a pena. Estar em São Paulo foi estar em qualquer lugar que eu não sei o nome, foi estar com você... Depois, de volta a rodoviária, após depedir-me e subir no ônibus, me veio um senso de realidade. A imagem de que a vida são esses recortes de tempo que inventamos junto de quem gostamos ou mesmo sozinhos. O tempo não se conta, se lembra. Não me esquecerei jamais dessas 22 horas, desse caminho de volta e ida, dessa extensa e infinita forma de dizer obrigado e te adoro. São Paulo é um cenário em que a vida- verdadeiramente vida- se encenou pra mim. Um desenho, um retrato. Tudo o que lembro ter visto em seus olhos, nesse verde fim de infinito estar... Em você.