De que lado????
É a minha maneira de desorientar.
Ilya Radeanu
Acabo de ler o mais recente romance do escritor romeno Ilya Radeanu, intitulado A menina do lado. Traduzido da versão inglesa The otherside girl, o livro trata de questões bem peculiares ao nosso cotidiano vistos pelo olhar de uma menina paralítica que sonha em construir uma bomba. A história, que parece banal numa primeira apresentação, se intensifica quando essa menina começaa se relacionar com um jovem e ideológico palestino de nome Yossef. A relação dos dois transcende p plano narrativo e integra os olhares que se constituem diferentes, porém reunificadores. Impressionada com a experiência de Yossef na arte de construir bombas e planejar ataques, a menina se entrega de maneira incompreensível numa jornada de emoção e descobrimento. O que há de realmente interessante na história de Radeanu é a necessidade contemporanânea de se quebrar paradigmas em tudo que se escreve e/ou pensa. O livro do romeno desvia desse caminho quando propõe ao leitor um caminho telúrico a ser traçado não pelo olhar narrativo desconexo, mas por um olhar limitado de funções que enxerga seu próprio mundo de modo contrastante. Vale ainda registrar a belíssima cena da morte de Yossef em um atentado suicida contra uma mesquita sunita, descrita pela menina que assiste a explosão pela TV. Depois disso, seguem dois interessantíssimos capítulos que desconstroem todo o universo belicoso e sentimental criado até então e remonta a história da menina através da imagem dissimulada que esta apanha para si da morte de Yossef. Sem mais o sonho de construir bombas, ela se dedica a leitura religiosa em frente aomonumento construído nas ruínas da mesquita, solitária voz em meio ao silêncio apagado da história. A frase final de Radeanu me parece ser perfeita para o desfecho : "A manhã cedia espaço ao memorial da rua, no asfalto gritava a poeira incerta, resto de nuvem, estátuas do amanhã." Leitura recomendada a todos que consideram a literatura algo além de si mesma.