Umas, novas, Idéias

Friday, September 30, 2005

Simone Spolladore


Desde que interpretou Maria Monforte na mini série global OS MAIAS, a supracitada atriz vem me intrigando com sua referencial beleza de mulher aliada ao toque carnal só peculiar as grandes atrizes. Simone, deitada na relva ou numa cama de lençois de seda; como trabalhadora rural do século passado ou como advogada; como prostituta ou alta dama da sociedade ( tem diferença entre os termos) é e será para sempre aquela linda mulher de fala e pronúcia fortes, rosto delicado, pele de mármore e ar de quem está se danado para o que os outros vão dizer sobre ela. Um dia, quando eu crescer e for figurante do Zorra Total, ainda mando uma cartyinha para ela dizendo assim: " In My life, I love you More..."

Thursday, September 29, 2005

diferentes

nós devemos mesmo ser diferentes:
eu penso em cortar meus pulsos
ela pensa em escovar os dentes...

Este é o final de um soneto escrito por Willyan Edward Cortvalle, poeta da geração pós-guerra australiana. Estava lendo o livro "apos teus olhos nus só vi peitos de vadias" do filósofo e também poeta do mesmo movimento Alfrey Hucksberry e pude então mergulhar no universo criativo e adicionante dos pensamentos desta geração. Cortvalle e Alfrey paracem dialogar com as instituições mais falidas da poesia universal, mas fazem isso de maneira ironica e subversiva ao ponto de encontrarmos versos como: " Molhei meu Cream Cracker no leite/ para o meu deleite/ para cremar meus sonhos." (WEC) ou ainda em : " No more/ my body/ my blody/ my door." (AH) . A poesia do pós guerra australiano deturpa os sentidos do mundo terreno, capitalista e burguês, simplesmente por que é feita num campo de batalhas onde a vitória é sempre impossível, trata-se do campo das palavras. Alfrey argumenta em seu micro manual já supracitado que " o conteúdo emblemático dos versos desta geração é na verdade um reflexo extremo da elocubração definitiva e inconstante das vertentes pioneiras e dos acontecimentos simultaneos da neo expressividade múltipla encontrada apenas nos últimos livros de Thorten Kilbane." Tendo como marco de fundação a batalha de Phillip Clear beach, a produção literária do pós guerra australiano se torna o maior paradigma de análises do século XXI, lembrando sempre que sua constituição derivada acaba por compor e decompor mestiçagens ímpares e continuativas no processo de construção da literatura universal.

bibliografia básica para pesquisas:

CORTVALLE, W.E. Poemas escritos no barro e no sangue de Phillip Clear beach. Sidney, 1974.

HUCKSBERRY, Alfrey. Após teus olhos nus só vi peitos de vadias. Sidney, 1979.

KILBANE, Thorten. Vendi cigarros no Vietnã. Sidney, 1988.

Wednesday, September 28, 2005

morre Golias ...

Ao chegar em casa ontem, após o conversando literaturas já amplamente registrado no blog do meu amigo Marlon ( vocês sabiam que o Marlon tem um blog?) , tive a triste notícia da morte de um de meus ídolos na atualidade: Ronald Golias. Para os que me conhecem e possam estar imaginando aqui uma certa ironia ou mesmo sarcasmo, esqueçam, pois é verdade que era e continuo sendo muito fã do intrepido comediante. Golias me fazia rir sem fazer nada, ou mesmo quando contava aquelas piadas velhas e repetidas na praça é nossa. O cara era hilário e tinha infinitas qualidades indescritíveis para uma conversa rápida de blog. Hoje pela manhã assisti flashs do enterro do humorista e o canal que transmitia pôs de fundo uma música triste que não caberia nem se o inesquecível Bronco estivesse sendo torturado em rede nacional. Espero que sejam feitas homenagens sérias e sem reducionismos ou saudosismo a mémória de Golias, já que falta pouco para esbarrarmos com ele nalgum lugar além.

Monday, September 19, 2005

CHUVA FINA


- Quanto custa?

A pergunta ficou sem resposta por algum tempo. Lembro-me de escadas rolantes rolando escada a baixo quase caindo na incerteza de onde ir. As vitrines cheias de manequins parados e nus. Pela janela turva e embaçada por uma chuva fina quase não se enxerga pessoas. E ela vem caminhando como um poema de estrada, sempre em movimento, sempre em sincronia exata. Mas ela passou. Forma-se mais a frente um pequeno tumulto de gente, luzes e vazia existência. Tudo cheira a frases curtas. E cada hora representa um dos passos que esqueci de dar. São canções que embalam as noites e são também as pequenas contradições que criam as canções. Beleza é uma forma de crivo, não uma sensação. A beleza é inerente aos olhos de quem vê e assim só se explica quando diz coisas sobre ela mesma. Não me admito neste mundo. A chuva aperta aos poucos como um cinto de água abundante e intermitente, repleta de adjetivos e metáforas de sintonia mais limpa, porém é apenas chuva e tem sempre a mesma compreensão de céu desabando mole sobre a calçada de minhas retinas. O tumulto vai se desfazendo e descubro ali uma pequena loja. Sim, foi quase um saque. Ainda baqueado por umas idéias que tive a tarde preferi esquecer o fato. Me custa muito sentar num banco e pensar sobre as mazelas do mundo, as pessoas e suas dores impossíveis enquanto sei bem certo que não há ninguém pensando isto sobre mim. Em pé penso menos e entendo-me sem a contração do corpo. Cada sentença que crio termina em si mesma e isso basta para não me expandir. Minhas fronteiras respiram um seco ar de ausência. E as escadas rolantes continuam seu inconstante trabalho de subir e descer sem parar, sem perceber em sua maquinal ação que passa várias vezes pelo mesmo terreno. A repetição é linda, por isso continuo. Nada é diferente. As diferenças não existem para os que preferem não ser. Durante algum tempo escrevi sobre pessoas e passagens numa espécie de desencanto para com a realidade. Atirei-me na direção das possibilidades até me encontrar nesta interminável queda. Nada é possível quando não pode ser possível. Aos poucos percebi a chuva ceder na vidraça. Baforei forte para criar página no vidro. Escrevi umas bobagens monossilábicas, apaguei com a manga do casaco. O polimento abriu a visão para a rua. Pessoas caminhavam numa fileira tão bela de guarda-chuvas, todos coloridos naquela noite sem brilho. Sim a noite é escura e sempre será haja chuva ou não. Mas aqui de dentro tão seco, tão só, posso abrigar todas as vozes que não ouço. Meu acaso é estar aqui, permanecer aqui, me esquecer aqui. Me retiro da janela pra perceber de onde vem o chamamento:

- Senhor?
- Pois não.
- Já foi atendido.
- Sim, por uma mocinha que me disse ia até buscar o preço do que quero.
- E o que o senhor deseja?
- O mesmo que pedi a ela.
- Entendo.

Diálogos são inúteis. Sempre achei isso. Diálogos tem em si a capacidade de destruir todas as palavras que podem ser ditas. De novo só, apoiado no balcão, aguardo insistente a demorada informação. A vendedora retorna:

- São cinco reais.
- Conto as notas.
- Por favor senhor, pague direto no caixa.

Obedeço a ordem de minhas pernas e sigo até o cocho. Pago, não tem troco. Sim, agora, com as pipocas já em mãos, basta retornar até a praça, sentar em meu banco, deixar a chuva passar e esperar o retorno dos pombos. Vou pisando em poças muito limpas. Minha vida deve ser mesmo assim, escada rolante.