Umas, novas, Idéias

Wednesday, November 23, 2005

Diálogo de cano duplo







Deus desceu à terra e disse:
- Cale-se Oswaldo! Só eu posso matar quem, como e quando quiser.
O Homem puxou da cintura a arma e atirou contra a própria cabeça.
Deus sorriu sem graça: ......................................
( a lacuna criada no vão da bala foi Deus por um instante)
... deus chorou sua impotência.
Oswaldo morreu sorrindo:
- A bala não obedece ninguém além do gatilho.

Tuesday, November 22, 2005

MELLVILLE, último poema

A vida é apenas a vida.
Eu...
( PUTA QUE PARIU!)
Eu...
A Vida é apenas a vidA.

Wednesday, November 16, 2005

Rui, a vida em minutos

A toalha molhada sobre a cama demonstrava seu desleixo para com as regras de organização doméstica. Rui contava os minutos para abandonar de vez aquela vida mesquinha e cheia de preocupações que levara até então. A notícia do prêmio o deixara muito entusiasmado, porém optou por omiti-la da esposa e do filho. Há muito os dois entes promoviam grandes brigas com ele por essa sua mania de apostar. Então está feito - pensou ele - passo no banco, pego a grana e me mando pra qualquer lugar longe de tudo. Para não despertar muitas suspeitas seguiu os rituais costumeiros da manhã. Chegou até a vestir o uniforme da firma em que trabalhava e ainda exclamou bem alto: Já ia esquecendo o crachá! Stress... Saiu, beijou a esposa longamente na testa (sinal de respeito e agradecimento pelos anos perdidos) e ainda pensou consigo que depois lhe mandaria notícias suas e uns tostões de indenização conjugal. O filho já estava na escola, mas esse teria para si tudo o que ganhara e mais o que pudesse fazer render em cima do prêmio, portanto não se preocupara. Porta a fora, o ônibus lotado de sempre, tudo normal para não levantar nenhuma suspeita. O banco já aberto, aproximou-se da mesa do gerente, comunicou quem era e mostrou o comprovante da aposta. Parabéns! Disse o bancário. Rui sorrio, requisitou um saque razoável e deixou o resto do dinheiro aplicado numa conta do próprio banco. Saiu calmo da agência, sem levantar nenhuma suspeita. Táxi até o aeroporto. Passagem para o Rio de Janeiro. Meia hora depois táxi para Copacabana. Dez minutos depois cinco putas, whisky da melhor qualidade, apartamento de frente pro mar num hotel de luxo. Gozou assim a primeira farsa da felicidade. Manhã seguinte, milhares de chamadas da esposa no celular, mulheres nuas por toda a parte do cômodo. Beijou uma delas, a que mais lhe afeiçoou. Abriu as cortinas espessas e vislumbrou pela primeira vez em sua vida o sol debruçado sobre a praia, ainda tímido da noite. as mulheres foram acordando e todas muito preocupadas em se ajeitar já que o trato ia até o fim da noite seguinte. Rui dispensou todas elas. Podia. Com a exceção da menina que beijara. Disse se chamar Morena. Rui sorrio. Isso não é nome, fala pra mim. Meu nome é Letícia. Rui abafou o peito. Era paixão por puta, dinheiro aos montes... aquela loteria salvara sua vida miserável. Sem tirar os olhos da paisagem repetia em voz alta o nome de Letícia. A mulher o abraçou por trás, afagou-lhe os cabelos. Vista-se Letícia, vamos sair. Fechou a conta do hotel, foram até uma locadora de veículos. O carro esportivo, caro, era apenas mais uma simples brincadeira perto do valor total que recebera da sorte. Dentro do carro, Letícia ao seu lado, interrogou a moça: onde será que esta estrada vai dar? Letícia silenciou num não saber responder. Vamos descobrir. Horas de estrada. Mar, belas paisagens. A conversa ia acontecendo com acostamento de idéias. Tinham coisas em comum. Ela do Rio mesmo, ele de São Paulo, mas gostavam de coisas parecidas. A vida profissional de Letícia lhe permitira acumular um leque de experiências inigualável. Rui ouvia com atenção, ela gostava de falar. A conversa fluía. Numa pista alta, serra de algum lugar, Rui parou na encosta, desceu do carro e olhou até onde viu. Letícia acompanhou o jogo. Minutos de calada apreensão e Rui soltou questão: Para você o que é o fim do mundo? Letícia respondeu rápido: de que mundo? Rui sorriu complacente: do nosso mundo? Letícia distraiu, olhou o perfil imóvel de Rui, o olhar ressacado de incertas agonias e promessas, e entendeu. Vamos! Não íamos ver aonde a estrada termina? Perguntou Letícia. Voltaram para o carro. Rui acomodou-se no banco. Letícia o beijou de relance. A alegria que sentira ao ser contemplado na loteria era nada perto dos lábios secos de Letícia roçando-lhe a boca. Quanto custa a sua vida? Ela espantou a pergunta. Diga, quanto custa? Como assim. Você trabalha por dinheiro como todos os outros, como eu trabalhava. Então, quanto custa? Letícia entendeu o caminho da conversa: Custa o pouco ou o muito que for preciso para você me levar pra bem longe daqui. Rui pisou fundo no acelerador. Aos poucos já nem se ouvia o barulho do mar.

Friday, November 11, 2005

O tempo que esqueci ter...


Na noite desta última quarta-feira pude perceber a velocidade com que as coisas mudam. O tempo é implacável, até nos segundos. Era a primeira vez que retornava da faculdade após ter me mudado de residência e de cidade. Caminhada até o terminal, meia hora de ônibus até a nova casa. No caminho, ainda pensando nas discussões do conversando literaturas, me vieram diversas inquietações sobre a hora, o espaço já percorrido e o que ainda faltava. Assim, depois de dois longos minutos de auto-reclamações, tive uma sensação diferente. Meus olhos presos à paisagem, que apesar de feia me intertia dolorosamente como um sarcasmo. A cabeça imaginando coisas, pensando pessoas e frases de um vazio lascivo. Nem pude reparar o número de gente diferente que sentou ao meu lado. Viagem longa. Memória se refaz e me leva aos tempos em que morei no Rio e perdia horas inteiras em engarrafamentos até chegar em casa. Voltei aos dias em que os bancos dos coletivos me aprisionavam na solidão do pensar. Meus olhos seguiam presos à janela fotografando o caminho ainda novo. É bom saber onde se está para se perder melhor. Tinha em mente tantas idéias irresistíveis sobre contos, romances, críticas; especulações sobre os resultados dos concursos que estou participando e seus possíveis desdobramentos (coisas inimagináveis num ambiente normal e são). Apreensão. Dei conta que tinha perdido esse tempo que sempre me foi tão produtivo e solitário nos caminhos de volta para casa. Enquanto morei por perto tudo era muito curto: idéias inacabadas, rostos indefinidos, mal dava para amar alguém. No bem, formulava erroneamente um pensamento entre um ponto e outro. As pessoas iam descendo e deixando dentro do coletivo um ar maior de resignação por mais um dia perdido. Quem tem pressa de chegar? Aonde chegar? Para quem e para quê chegar? A hora de descer se aproximava, malditos pontos de referência! A rua semi-escura, paralelepípedos desencontrados, a lixeira me fazia recordar o portão certo. De volta ao convívio, distante novamente de mim, sobrou a certeza de que esqueci todas as mirabolantes idéias que tive, todos os contos, novelas e romances que subterraneamente escrevi no coletivo, todas as formas que pensei para dizer o que quero dizer para quem quero dizer... quem sabe se me lembrasse ao menos disso voltaria a ter pressa em chegar.

Wednesday, November 09, 2005

enfim o link para votação


Vocês que acompanham esta imunda página já sabem que fui selecionado num concurso de poesias onde o tema era o rio de janeiro. Pois bem, o link para votação é esse http://www.culturahoje.com.br/ ( o link leva até o site da cultura hoje daí é só clicar na imagem do augusto dos anjos onde está escrito votação), nem eu lembrava bem do texto que tinha inscrito, li meu poema agora pouco e vi que não é bom ( e isto não é um mea culpa) , mas dos outros 29 só um me agradou, vejam vocês mesmos. Ajudem-me a transcender do posto de TOP 30 para o posto de TOP TEN... hahahahaha... Valeu galera, um abraço.

Monday, November 07, 2005

A mão que sustenta o mundo


Tínhamos uma enorme vontade de nos matar. Desde que conheci Eulália o sol passou a nascer mais bonito em minha janela. Sol de inverno, dizia em meus sonhos. A casa, propositalmente construída a beira de um riacho, era branca, de janelas e portas azuis com uma enorme varanda que a cercava por todos os lados. Gostava de receber seu corpo ali, na rede, vendo o tempo passar vadio como cão sem dono. Amor não é invenção, é covardia da alma.
Manhã. Cedo levanto para preparar o café. O telefone toca. Eulália se foi. Não ela não morreu, sem eufemismos baratos ou clichês. Ela se foi para outro país com um cara que conheceu mês passado em seu trabalho. Tinha uma enorme vontade de me matar. O fogão aceso, chama alta. Vesti uma roupa qualquer e parti pro nada. Campos abertos, verde, mato, morte em cada avenida. Penhasco: Beirada do mundo e da gente. O vão entre as montanhas equilibram nossa existência. De um lado o real, do outro nós mesmos. O vazio que há no entre é o que queremos. Um vento forte. Nuvens, sol, neblina. Olhei o fundo da terra. O fundo.
Da beira vislumbrei teu rosto Eulália. Queríamos morrer juntos, mesmo veneno, amor e ópio. Agora seguiria sozinho na intenção. A queda seria fatal. Meu corpo em pedaços apodrecendo no esquecimento do penhasco... Não! Morrer de amor é o caralho. Eulália em seu vestido florido deve estar ofegante sob o corpo de seu novo namorado. Tremendo juras de amor como as que me fez e depois vai procurar outra pessoa que lhe dê o que ela realmente quer. Cuspi no abismo e regressei para casa. Meu sofrimento foi sumindo. Clichê de uns minutos e uma vida.
Fiz um café fresco, liguei a tv para ver os desenhos animados. Plantão. Caiu um avião que seguia para Estocolmo. Pensei em Eulália... pensei em nós dois e no penhasco. Driblei nossa promessa. Ela morre, eu sinto. A tv volta aos desenhos. Quase não percebo. Tinha a vida em minhas mãos. A caminho do banheiro aprisionava esse gosto para não perdê-lo ao me masturbar.
O sol de inverno iluminava outra vez o amor verdadeiro, o primeiro e único, como nos romances de José de Alencar ou nos dizeres do Corão. A vida é um clichê sem igual. Mãos que unem os sentidos.

Friday, November 04, 2005

Prêmios

Agora pouco recebi este imeiu:

Olá, Parabéns!!!

Sua poesia está entre as 30 finalistas do Prêmio de Poesia Augusto dos Anjos

Ela será publicada com as outras finalistas na página especial do prêmio, no site Cultura Hoje, para que os internautas possam avaliá-la.

Agora é a sua vez de buscar votos! Conforme o regulamento, as 10 poesias mais votadas serão submetidas ao júri oficial, formado pelo presidente da ABL, Ivan Junqueira, pelos poetas Ítalo Moriconi, Ricardo Máximo e Ronaldo Cunha Lima.

A página especial entra no ar a partir de terça-feira, e você terá 15 dias para pedir votos!


Me enchi de esperanças para este fim de ano. Sabe, ia escrever um post que falava de umas coisas muito chatas que vem acontecendo comigo. Nada de novo, desilusões, desenganos... mas esta notícia gritou para mim: " A única coisa que você se propõe a fazer criticamente parece dar certo às vezes..." Sim, esta escrita que digo e afirmo ser meu maior erro, já me trouxe muitas alegrias. Ganhei uns concursos, agora esta seleção, os comentários de meus amigos. A literatura me comove e me irrita. Queria muito poder dominá-la, mas é realmente impossível. A literatura é impossível. Eu, rebento de tantos textos horrorosos de minha própria autoria, de vez em quando pareço acertar e quando animo ela vem e me golpeia forte dizendo: VOCÊ É UM MERDA!!! Vejo então que tudo o que já possa ter feito na literatura será sempre infinitamente menor do que a literatura em si. Minha marca de palavras deve estar na letra abandonada de algum livro inacabado. Processem meu excesso de adjetivações, mas não deixem de ler e criticar meus textos. Minha literatura é um prêmio a cada erro. Eu julgo, classifico e elimino. Sou Juri rigoroso. Meus maiores prêmios literários ganhei nas críticas de amigos e nos meus próprios achismos. Desconcerto. Os prêmios Literários são muito válidos, alguns discutíveis, porém sempre tem um fundo interessante de incentivo. Desvio o Tempo. Acerto o relógio de forma que entenda melhor meu atraso nas letras.

Thursday, November 03, 2005

Tá foda mesmo...


Para começar o dia se desfez em chuva bem na hora em que resolvi sair de casa. Acreditei até que poderia ser uma boa jornada, mas tudo precipitava ruir antes mesmo dos primeiros desenganos. Li uma mensagem logo após que me deixou definitivamente confuso. Minha vida é mesmo uma droga. Tenho sofrimentos simples, muito próprios, meus. Um pouco depois encontrei com alguém que saberia de cor esse eztranho nexo se não fosse também desnexo como eu. Sorri e pensei: hoje tá foda mesmo... Vim até este computador para postar a mensagem de hoje, que tinha escrito em casa e me soava muito singela diante outros pequenos textos que já escrevi. Bobagem. Tinha em meu caminho a inoperância de um sistema que não permitiu que pudesse transferir o texto do disquete para esta área e trabalho. Tive então que escrever de sopetão. Para minha irrelevante possibilidade de alegria o fato de estar escrevendo ao lado de marlon, que também postava em seu já lendário blog no pc a minha esquerda. Deprimido por tantas instantaneas desilusões mini porte achei que iria escrever algo triste, depressivo com o qual pudesse me matar numa overdose de polenguinho. Mas a vida, e isto não é uma citação de um livro de auto-ajuda, sempre nos reserva o acaso. No caminho do laboratório encontramos com uma senhora que carregava literalmente nos braços sua filha deficiente física, menina bonita, cheia de vida e preocupada com a falta de biritância em sua atual faculdade, o fundão. Ela veio tentar transferência para estudar aqui. Diante o olhar daquela mãe pude entender que minha vida é mesmo uma droga, pois não tenho nenhuma razão aparente para desanimar e achar tudo uma merda e mesmo assim condenso minhas idéias nesse desgosto impróprio do destino. Caralho, tá foda mesmo. Se eu fosse o bozo saberia encarar a luta.