Monday, October 31, 2005
Wednesday, October 26, 2005
Dois partos, um só dia
Monday, October 24, 2005
Maybe, entre o sim e o não
Dia 23 de outubro de 2005: Referendo. Uma mini campanha política entre o sim e o não, onde, apesar de ter uma opinião formada sobre o assunto, pensei seriamente em não exercer minha farta amostra de cidadania. Como de costume, convocado pelo cartório eleitoral, fui cumprir minha sina de trabalhar gratuitamente num dia de domingo sem nenhuma perspectiva de algo novo. O problema é que enquanto temos a previsibilidade internalizada podemos nos prevenir de ingratas surpresas. Pois bem, trocado três vezes de função e trabalhando diretamente no cartório e não numa seçãozinha qualquer, tive que chegar as sete da manhã sem saber que só conseguiria minha alforria, as dezenove e trinta. Mesmo com todos os contras de se trabalhar para auxiliar a boa performance do pleito (atentem a leitura, pois eu disse pleito), sempre há os momentos em que você acaba se sentindo mais inútil que o comum. Meu domingo foi uma série desses momentos intercalados por doses cavalares de todinho, café, guaravita e Club social.
Tudo começou logo bem cedo quando percebi que minha presença ali era extremamente desnecessária. Esta não é uma observação de preguiça anunciada, mas de total responsabilidade cidadã. Éramos em dez, sem contar os dois juízes e o promotor público que completavam o escrete da zona (no bom sentido). Um intrépido funcionário, concursado, da seção esboçava toda a sua habilidade na constituição de belos e fartos sanduíches quentes que fazia questão de oferecer a todos que olhassem sua milenar arte de preparo. De fato era um grande preparador de rangos diversos. Comprovei sua qualidade degustando dois de seus saborosos mistos. O café rolava solto no maior espírito repartição pública, ainda mais acentuado pela incrível semelhança entre o chefe do cartório e o Lineu Silva do seriado global “A grande família”. Sobre a égide deste grande guru seguiram-se discussões diversas e de imprescindível relevância para o bom andamento dos trabalhos. Por volta das oito da manhã, o sanduicheiro foi requisitado para pechinchar preços, pelo telefone, de gelo. Sem entender muito bem, acompanhei o processo no intuito de aprender o que os bons homens que gerem a máquina pública deste nosso enorme e portentoso país conhecem sobre as artimanhas da negociação. Surpreendi-me, assim como muitos da seção, ao perceber que o vendedor de gelo, ao saber que se tratava de um funcionário do cartório eleitoral, passou a pedir diversas informações sobre como deveria proceder na eleição. Após a graça do momento descobri que o gelo era necessário para refrescar as dezenas de garrafas de refrigerante de dois litros e os muitos copinhos de guaravita. Gelo encomendado, provavelmente já a caminho, começou um amplo debate, pela boca de Lineu, sobre como deveria declarar o gasto com o gelo. A seqüência reflexiva de nosso clone de Nanini começava com a seguinte frase: “gelo é água!” De primeira a sentença parecia ser de cunho interrogativo, mas depois de tantas e convictas repetições da mesma frase pudemos perceber que ele tinha certeza do que falara. Sem entender muito bem todos começaram a rir até que Lineu explicou que sua expositiva definição teórica sobre a composição do gelo surgia de sua impossibilidade em declarar a compra efetuada na verba de alimentação já que água, café e açúcar são itens que não entram nesta lista. Assim, nosso temporário chefe, refletiu bons minutos sobre como deveria preencher o cheque administrativo de oito reais, eu disse oito reais, para o pagamento da encomenda.
Com a chegada do juiz tudo se transformou. O ambiente de total inoperância se tornou mais sisudo pela seriedade da figura e pelo medo que ele impunha já que tinha delegado em suas mãos o poder de voz de prisão, ou seja, falou merda se fudeu. Pelo menos para mim a figura do ilustre “doutor” ( doutor é quem tem doutorado) desmoronou quando o mesmo declarou com suas palavras que não votava fazia um bom tempo e justificava para ele mesmo, deferir ou não, através de memorando. É realmente uma grande festa da monarquia, quer dizer, da democracia. O marasmo da repartição foi interrompido após um apocalíptico telefonema no qual o interlocutor locado em sua respectiva seção eleitoral atentava para a periculosidade da falta de canetas em sua mesa. Meu Deus, pensei eu em voz baixa, temos que resolver o problema urgentemente para não atrapalhar o bom andamento do referendo. Para minha satisfação pessoal o difícil problema foi sanado rapidamente com o envio de três robustos homens até o colégio desprovido portando uma meio vazia caixa de esferográficas. Ufa, salvamos o país.
O tempo foi se arrastando bem devagar até a tarde. Outra vez veio através do telefone novo empecilho: certa zona eleitoral recebera os lanches de seus funcionários desfalcados de 22 todinhos. Uma grande confusão se gerou em torno da falha. Teria sido erro de contagem? Seria um caso de furto indevido? Seria um ato de gaiatice, como sugeriu um dos participantes? Eu, sem resposta para o cataclismo, observava a movimentação bebendo o quarto achocolatado do dia. Chegando ao final do período de votação nos encaminhamos até a portentosa Univer$idade $algado de Oliveira, vulgo Universo, para o processo de recepção das urnas. Este ilustre momento foi apenas interrompido por esta filosófica frase-ensinamento do coordenador do local: “Vamos organizar as urnas em ordem cronológica.” Não seria numérica? Pensei comigo. Mas o importante, doze horas após um não trabalho árduo, era ir para casa, por isso contemporizei. Minhas angústias pessoais se tornaram muito pequenas diante embates tão graves. Como quis ser apenas um pós graduando de uma Universidade Federal em greve, desempregado e participante do Conversando Literaturas... Como quis!
De volta para casa só pude pensar em escrever este pequeno relato antes que acabasse esquecendo algum detalhe deste tão entusiasmante dia. Com a certeza do dever cumprido e a satisfação da experiência adquirida encerro esta singela mensagem retornando a minha inutilidade, agora mais bélica do que nunca. A propósito, nesta terça-feira tem Conversando Literaturas no Bar dos Velhos, Cantareira, inaugurando o ciclo Borges. É preciso descontrair após tantos densos fragmentos de sabedoria. Termino o texto com frase muito própria, ao menos me parece, que dava título ao pequeno livro que encontrei sobre a mesa do Chefe de cartório e sósia Lineu Silva: “Você não é um acidente.” Devo ser... ah, mas devo ser sim...
Thursday, October 20, 2005
Refém do que virá...
"O mundo é só mais um quarto escuro"
Lobão
Tuesday, October 18, 2005
De volta a poesia...
TEMA DE NOVELA
Palavra puta palavra.
Na boca de todos,
Nas mãos de qualquer um.
Se faz de vadia e me vem como salvação
Finge que é santa, finge que canta
Mas no fundo é só solidão.
Palavra mesquinha escrita.
No papel ganha vida,
Esquece o paradeiro de quem te deu ar
Abandona a grafia que é sentir
E parte, reparte sem acenar
Essa bosta que é escrever e dividir.
Palavra puta palavra.
Prostituta das letras,
Pedófila e monossilábica
Palavra morra em ti,
Não reclames de nenhuma falta,
Você me vem, você se vai
E na boca de qualquer um se refaz.
Puta palavra:
Te pago e você me insulta.
Otavio H. Meloni
Friday, October 14, 2005
Anatomia Erronea do Nariz
Vai longe bem distante aquela nau que não deixa de tal nome solidão. Parece um verso emendado e deve ser. Os rios e os mares são muito inexplicáveis para as pequenas incertezas do homem. Salve amigo marujo que se desfaz em ondas repentinas de desgosto e tédio. O homem reparte em todos os pedaços possíveis um quadrado e insoso biscoito de cream cracker. Farelos bóiam como ilhas na tigela de sopa. Essa é a solidão dos aviões, sempre evitam se esbarrar no céu. As aves voam em bandos. Os aviões voam de banda, fingindo não conhecer ninguém. A nau segue calada numa invisível sessão de Fellini no telão do cinema central. Corro minhas especulações existenciais sobre a durabilidade do saco de pipocas durante a sessão. Adoro pipocas e a nau parece tão lenta. Vôo por toda a sala procurando um deserto cemitério de aviões onde possa encontrar um pipoqueiro para comprar mais pipocas. Os aviões voam incapazes de bater asas. Na tela a nau segue se arrastando com um terrível, porém inusitado sotaque português. Aos poucos a sopa ia escorrendo pelos cantos da boca e se espreitando na barba espessa e sem cor de um homem velho. Gosto também de cream crackers, mas não com sopa, prefiro acompanhados de manteiga ou geléia. É uma espécie de realce ao sabor. O mar é salgado. Choroso de tanto ser cortado salgou-se de mágoas próprias e não dos outros. O mar é mar e não precisa ser mais. Quando a sopa termina a tigela vazia guarda ainda restos umedecidos de biscoito. É quase um retiro de corais, uma reserva barrosa onde a nau não esbarra. Aviões batem em nuvens. O céu não tem gosto de nada. O que tem gosto te gasta e te gosta. As pipocas se quebram em minha boca e forjo assim acidentes de casco esbarrado em rochedos. Sacudo o pacote a procura de mais sal. O sabor é um recorte de saudade. Uma saudade pesa quanto foi e por quanto tempo ainda será. Quero apenas terminar o filme junto com as pipocas. O homem se levanta, atira contra o mar a tigela vazia e solta um grito. Talvez o rabo de uma enorme baleia tornasse a cena mais estranha. A platéia de eu e mais uns fazia diversas caras de várias compreensões. Todos pareciam perceber detalhes que nem o autor pensou. Eu não entendia nada além de naus e aviões. Mas a pipoca se mostrava terminantemente terminal. Como dessas coisas que não entendemos me veio uma antiga fórmula de física. Tentando lembrar suas possíveis resoluções e utilizações acabei por perder o final do filme ante meus olhos. Na saída, ainda com pipocas minhas, pude expor minha opinião sobre a cena da tigela atirada ao mar como tradução subvertida de toda a dialética restrita imposta e fragmentada entre a solidão e o infortúnio do não estar em si mesmo contemplada pela figura topográfica e inconstante de água em movimento com ao adendo palatino do sal como verdade/mentira na decomposição do humano e do mundo. As pipocas acabaram e na saída pude ver um avião. Naus não fazem mais. Naus apenas vão.
Tuesday, October 11, 2005
Memória X Saudade
A memória como instrumento de reconstrução deixa de se fazer apenas na ação de lembrar e passa a conjugar outros verbos como criar, compreender, produzir e, principalmente, significar. O que aqui dizemos é que a memória abandona a idéia de um conceito simplista para representar-se na reflexão e na alteração de conceitos ditados pela própria análise temporal. Assim, retomar o imaginário de um tempo passado, seja próximo ou distante, não é de forma alguma um ato de abandono situacional e também não implica na criação de um cenário saudosista. A modernidade sonhou com o futuro, mas teve de buscar na memória, coletiva ou nas individuais, as “soluções” que acreditou poder criar em si mesma. Daí a duvidosa e conflitante relação deste processo com relação à saudade. Segundo Zeca Baleiro : “A saudade é Briggit Bardot acenando com a mão num filme muito antigo.” A saudade é cinematográfica e assim representa apenas as coisas que por algum motivo ou por alguma inexplicável sensação precisamos lembrar. E, como já dissemos, lembrar apenas não basta. Essa ação é meramente emotiva, não aproveitando o passado como material produtivo, reduzindo experiências, imagens, tradições e vivências a recortes temporais isolados incapazes de construir, até mesmo, um pequeno campo semântico, ainda que intuitivo.
Se pensarmos no tempo como retrato vivo de repetição encontramos novamente nosso dilema anterior. O homem, que se viu perdido entre conceitos aparentemente fáceis, pode levantar todas as manhãs, se olhar no espelho e não se ver e verdade. Modernistas, modernos e modernosos, com todos os acréscimos do pós, do neo e do hiper, não conseguem mais cultuar o porvir sem esbarrar no que já foi. Se pensarmos mais agudamente, isso nunca foi possível. Volto novamente ao poeta Lobão para registrar a repetição da idéia: “tudo de novo, tudo de novo, mais uma vez.” O velho lobo talvez esteja mesmo certo. Ainda por muitas vezes faremos toda força do mundo para mudar as coisas com o único intuito de que elas continuem como estão.
Briggit Bardot acena distante na estação enquanto o trem parte em busca de outras formas de adeus. Saudade é tudo que se desfaz entre palavras e lágrimas. A mão acena, mas ainda acenará muitas vezes, por motivos diferentes, em momentos distintos. Existe adeus de vontade, existe adeus quer que fica. A saudade transita. Memória é tudo que refaz o exílio do tempo. O lugar delineia ausências, a memória compõe suportavelmente a vida. É o entre lugar sobreposto no não-lugar. Memória é permanência. Precisamos esquecer de tudo para que o passado continue vivo em e para nós.
Friday, October 07, 2005
Mesmo que não veja, ainda serei o primeiro...
A questão da colocação final não é muito importante para muitos, mas o mundo nos cobra sempre um melhor desempenho em tudo o que fazemos... ( não retirei isso de nenhuma redação dos meus alunos de pré-vestibular) Pois é, assim, como só um pode chegar em primeiro e, como disse bem nelson piquet :o segundo é o primeiro dos últimos , só podemos nos contentar com os insucessos (leiam fracassos) que empilhamos sobre a estante de nossas casas. O Ultraje arigor tem uma música que espelha bem essa teoria que aqui proponho. O nome da canção é Terceiro e o que salta aos ouvidos de quem aprecia a letra é a certeza de não estar sozinho neste mundo de inteira competição quase sempre perdida antes do início. O símbolo deste andarilho comentário, me parece, sem dúvidas, ser o rubinho , que mesmo pilotando uma Ferrari não ganha nada. O Barrichellismo é hoje o mais vigente pensamento neo global da sociedade pós contemporanea do ostracismo olímpico e do podismo instantaneo para todas as ações. A corrente supracitada envolve altas fundamentações teóricas que ajudam, de certa forma a compreender e conviver com o constante sentimento embutido antes de realizar qualquer ato, de que há maiores probabilidades de dar errado do que de dar certo. O grupo Los hermanos, engajado no propósito de auxiliar derrotados e desiludidos, lançou o que considero particularmente o hino deste movimento. A música O vencedor diz já em seus versos : "e eu que já não sou assim, muito de ganhar/ junto as mãos ao meu redor/ faço melhor que sou capaz só pra viver em paz..." As derrotas nos ajudam a imaginar como deve ser bom vencer, alimentam a raiva que temos para com nós mesmos e ainda são capazes de te acompanhar até o fim de seus dias, só pra vc não esquecer sua condição. O Barrichellismo, porém, não admite qualquer tipo de perdedor, é sabido que um dos grandes lemas desta escola filosofica é o metafórico "correr na chuva é sempre melhor". Analisando a assertiva podemos perceber que o risco de dar errado num ' ambiente chuvoso' é muito maior, logo, qualquer erro, qualquer falha que te leve novamente aos parques da derrota, será levemente abonado por seu subconsciente através de desculpas planejadas e pensadas estrategicamente e por você anteriormente. Um grande seguidor desta corrente de pensamento é o filósofo pós-moderno Lair Ribeiro, autor de vários tratados de alto teor conjecturável e extremo leitor do Blog Continuosis, aliás, o Prof. Lair é muito respeitado internacionalmente e assim também se torna grande difundidor do Barrichellismo pelo Mundo. Sua obra vem sensibilizando derrotados de todos os continentes e bate forte como um soco do maguila. Para encerrar este breve comentário de Hoje, deixo aqui uma questão: porque as pessoas, para se justificar adversativamente de alguma coisa, sempre usam o mas e não o porém? O amigo que vos escreve lembra que este post é um patriocínio das Quitandinhas Kung-Fu, Yahhhh! um golpe nos preços. Obrigado.
Thursday, October 06, 2005
Uma dor de cada vez basta...
Wednesday, October 05, 2005
Meus amigos e suas frases
Este post é só pra categorizar algumas frases que na verdade desdobram teorias indecifráveis de vida e existência que conheci através de alguns de meus amigos.
1- E aí, foi gol?
Incrível frase de Fabiano Morais ao fim de qualquer relato de encontro com uma mulher. Serve de estatuto quando a intenção do interlocutor é embromar o resto do grupo com mentiras malevolamente pré-pensadas. Desbrava os mais ríspidos caminhos da objetividade sem perder a pronúncia silábica e silabada de nosso intrépido tradutor, que também é frasista de mão cheia.
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2- Botô a boca, ô morde ô chupa !
Frase direta e de várias significações. Você pode usar na praia, no cinema ou num rodízio de carnes. Pérola de um amigo dos tempos de escola só tem efeito quando pronunciada como está escrita acima, já que não confubalam no mesmo campo semântico, seu significado e seus significantes. Cabe ressaltar que é sempre atual no verão.
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3- Quero uma mulher com cara de passaporte!
Frase clássica extraída da fala da esposa de Helder Macedo sobre a poetisa Sylvia Plath. Adaptada pelo meu intrépido amigo japa Ivan ( aquele que tá no ciclo básico ) a sentença virou uma espécie de slogan para todos que procuram muitos lugares em uma só mulher, para dizer com Levis-Strauss.
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4- Morre lindamente...
A frase é de Marlon Magno que, além de poeta e tradutor de italiano, também tem um blog. A frase é sintética e pode ser utilizada para designar diversas ações. Tem um efeito muito representativo, por isso é de melhor segurança pessoal não dizer em voz alta, nem em locais de alta periculosidade, como, por exemplo no estágio em Neves, ou ainda na piscina do Olaria.