Umas, novas, Idéias

Sunday, May 28, 2006

SUMULAS FRANCISCANAS PARA UM NOVO MILENIO

1 - Ontem queria beber compulsivamente até vomitar e ter algo diferente com o que me preocupar. Pensei em comprar umas garrafas de cachaça e uns limões pra incrementar o porre, mas lembrei que estou tomando remédios. Fiquei entre o físico e o emocional. Decidi não beber, mas, pra compensar, tripliquei a dose dos remédios.

2- Acordei com uma puta dor no peito e achei que estava noutro lugar. abri a janela e o quarto se encheu de uma luz vazia que me mostrou ser o mesmo lugar. Fechei a janela e voltei a dormir.

3 - Os remédios estão acabando e fiquei pensando em outros medicamentos sintéticos que possam controlar minha alma. Como não pensei em nada bom, resolvi escrever um novo conto. Puta queo Pariu, acho que ficou bom.

4 - Amanhã volto aminha rotina de merda : acordo as cinco da manhã; trabalho, casa, cinco da manhã, trabalho, faculdade, casa... eu só queria durar 27 dias.

Tuesday, May 23, 2006

Poema para McCullin




O reflexo desta linha é óbvio e movediço.
percebo que há duas partes
e por isso creio numa terceira
inteiramente despedaçada como eu...

Reflito.

O espelho mostra cadaveres entre palavras e projetos.
Sozinho reconheço a derrota.
Sozinho.
É esta solidão profunda que me isola de mim
e, ao mesmo tempo, me torna outro.

Tenho todos os motivos pra desistir:
finito é o tempo quando se crê na morte.
Não há mais bandeiras nem planos;
Não há mais nenhuma batalha:
A guerra é finda.

Olho sobre a folha a procurar-te
e só encontro o novamente branco da solidão...
A mesma solidão que perpassa os olhos
e me une aos demais
na melancolia das almas e das horas...

Sunday, May 21, 2006

Para além do livro, O Livro


Esses dias recebi um presente de aniversário vindo direto de São Paulo. Era o volume três da série Harry Potter que sempre tive um pouco de receio em ler. Junto ao livro enviou-me um pequeno bilhete que dizia mais ou menos assim: “Tente ler sem analisar. Sei que isso é difícil pra você, pois este é o seu trabalho, mas tente ler apenas se prendendo a história e não na maneira como ela é contada.” Foi o que fiz. Mas o que me parece mais importante nessa incursão, antes mesmo de falar se gostei ou não da história e do pequeno universo criado por J.K. Rowling, é que reafirmei minha idéia de que cada livro é um livro diferente e não falo apenas de títulos diferentes. Quero dizer... devem existir milhares de exemplares de Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban no mundo, mas certamente nenhum é igual ao que recebi pelos correios na semana passada. O objeto livro, seja qual for, tem a importância que se quer ou se pode dar a ele. Este exemplar que tenho em mãos veio acompanhado de outros ingredientes que estavam por fora da leitura em si. O fato de se dar um livro que é seu, que tem seu nome na contracapa, desfalcar sua coleção que já não é mais completa porque você resolve presentear alguém de quem gosta, tudo isso transforma uma mera ação num ato de dedicação. Assim, comecei a leitura sempre sabendo que tinha em mãos não apenas uma história de Harry, mas uma outra história que era somente minha e que estava presente em cada detalhe do livro e falo de detalhes como uma pequena orelha na página, o bilhete que usei como marcador e o tocar sabendo que já fora lido por quem me enviou. Lembrei-me de Umberto Eco e estabeleci de cara um pacto com a srta. Rowling de que aceitaria todas as imaginações que encontrasse em suas páginas dedicadas a pequenos bruxos e uma escola de magia. A leitura fluiu feito o tempo que recriamos por de trás das horas. O livro encanta pela simplicidade e criatividade, a variedade de detalhes e o não se prender em descrições longas. Rowling conseguiu fazer uma história para crianças, com uma linguagem sem muitos emaranhados para que elas possam compreender e se envolver no texto e, ao mesmo tempo, recheia o livro de pequenas questões subentendidas como o cuidado pra criar um outro universo que mesmo no ambito da magia é paralelo ao que conhecemos como real, novas realidades; a anormalidade do normal e o descentramento da razão e da lógica vigentes. Quando terminei de ler Potter, sabia que não estava diante de nenhuma grande experimentação estética ou mesmo de nenhum aprofundado exercício de linguagem até porque essa nunca foi a intenção de J.K. Rowling. Percebi que tinha em mãos não apenas o livro três da série do pequeno bruxo, mas um pedaço bem grande de alguém releio todos os dias na lembrança. O prisioneiro de Azkaban me alegrou mesmo enquanto crítico, pois não há, em nenhum momento, pretensão por parte da autora. Ela se propõe a contar um história que é no mínimo interessante e o faz de forma sincera e consideravelmente boa. Lendo os embaraços de Harry, Hermione e Rony através desse olhar de fora, de quem está recebendo além da história em si outras histórias ao redor terminei minha leitura satisfeito e intrigado pelos próximos aconteceimentos. No mais, pude perceber e reafirmar que o objeto livro nunca é o mesmo ainda que tenha o mesmo título e as mesmas palavras impressas nas páginas, na mesma ordem. Em toda ação existe um desequilíbrio que controlamos para não cair. Na leitura não é diferente, pendemos sempre para um lado e para o outro até encontrarmos o ponto certo para centrarmos nossa atenção. O livro é o ponto quando se percebe de fato o que está se lendo: o processo ou a própria existência. De algum lugar adiante deste, alguém poderá rir, mas o que importa a página seguinte se ainda existem lacunas e espaços entre estas palavras? Eu não me importo. Quando leio escapo de mim.

Sunday, May 14, 2006

Caguei pra Mesquita, bom mesmo é o Conversando! Último encontro do ciclo Cortazar.




Como nosso cronista oficial, Marlon 'Continuosis' Magno, preferiu um show de black metal em Mesquita a participar do último encontro do ciclo Cortazar, me senti na obrigação de vir registrar, provavelmente de maneira menos profissional, o que se passou no apartamento da senhorita Isa Laxe enquanto assistiamos Blow Up, de Antonioni. Encontravam-se no recinto sintecado, além do bichano Mentirinha, Maximus Helenus, Junior, Fabiano sortudinho, o mediador nipo-amarelico Ivan Ciclobásico, a dona da casa e este que aqui vai dizendo. Com nossas máquinas fotográficas nas mãos, começamos a ampliar os detalhes dessa coisa indefinida a que chamamos literatura. Enquanto pipocas estouravam na panela, Antonioni nos apresentava a essência de Cortazar recriada numa história tão interessante como o original, com um personagem gente boa demais, humano e muito simpático. Entre cenas e diálogos inconstantes, as hélices e as bolinhas tênis iam começando a fazer algum sentido, principalmente quando chegamos a opinião de que o cadaver do filme era Borges, que morreu sem pegar ninguém. Vanessa Redgrave, sempre comparada as outras mulheres do filme (Veruska), causou grandes discussões sobre a permanência ou não da tensão do conto jogada sobre a imagem do menino. A direção do olhar, o carro refletido nas retinas. Enfim, como de costume, nos estapeamos boa parte do tempo em sequências de pausas no dvd com o único intuito de discutir uma cena de três segundos. Ivan, que deveria nortear as discussões, permaneceu calado comendo pipocas caprichadas no sal. A coisa pegou mesmo quando não sabiamos mais se o corpo realmente existia, se estava na foto, se era loucura do personagem, porque Vanessa tinha sumido do filme...
Até a culminante cena do jogo de tênis, onde pela primeira vez na noite um silêncio assustador tomou conta da sala localizada em são domingos. Podia se ouvir o barulho dos olhos esbarrando na imagem e as caras de "caralho, que porra é essa?!" Sem muito mais a dizer, Blow up amarrou muito bem o ciclo Cortazar, já que, noutra linguagem, diferente da literária, nos mostrou como se pode adaptar histórias como "As babas do Diabo" sem se perder a essência e sem ter a obrigação de seguir fielmente o texto escrito. Antonioni viajou nas loucuras de Cortazar usando a camera, passeando pelos olhares múltiplos, numa história em que tudo se vê através de uma lente, por trás de um outro olhar. O Conversando agora reorganiza seu calendário e sua proposta. Voltamos ao meio acadêmico depois de uma longa temporada no Vestibular do Chopp e espaçamos os encontros para facilitar a presença de mais pessoas nas batalhas. Guimarães vem chegando ao Gragoatá... Depois dos argentinos, o Sertão.